Dom Quixote

 

Tenho uma alma antiga

Daquelas que sobrevoam em tardes perdidas

Na busca por causas que todos deixaram para trás

Recolhendo os cacos de dias em que precisei de paz

Tenho uma coragem demonstrada

Em noites exigentes de ser explorada

A mais alta ousadia de enfrentar os medos da sordidez

Batalhas que mais caí do que levantei, na sóbria embriaguez

Tenho a sorte de amores indescobertos

Que de um olhar diz mais que peito aberto

Aos quais a saudade fala mais que silêncio de inocência

Uma beleza gentil colhida na adolescência

Tenho o coração vermelho que pulsa

A justiça dos oprimidos que exige a repulsa

De expulsar a mesquinhez do orgulho humano ao que resta

O menino deixar de sê-lo para amanhã ser outro dia de festa

Não tenho a riqueza das nações

Tampouco o condado dos montes cristos, rincões

Mas tenho os crimes e os castigos de uma vida sofrida

E o Manifesto Amor Rubro, capital que partilhei a ti, querida

Não tenho mais a juventude de outrora

No rosto as cicatrizes que marcam a história

De julgamentos vis que me levaram a muitos becos sem saída

Ao fim que me trouxe a você, Menina, fotografia jamais esquecida