What's the time?
Eu gosto do tempo. Já disse isso algumas vezes.
Mas hoje vou me permitir viajar no tempo. Sim, não leram errado, vou cometer
essa loucura, de viver a dúvida, daquilo que não foi. Poética deve ser, daquilo
que grego queria criar e ser, de uma nova história acontecer. Dialogando com o
tempo, pedi a ele por um momento, entrar dentro de mim para que ele, aquele
Deus, me conduzisse a um paraíso: o lugar das territorialidades dos sonhos
perdidos.
Ah, não vá chorar, caudalosa amiga de rios
que correm velozmente. Estou apenas cronicando, assuntando, com café quente de
manhã e um sol de Minas Gerais. Sim, o pão de queijo está aqui, como lá no Pará,
Minas e Galo em todo lugar. Mas, enfim, essa brincadeira sem fim, foi para
dizer que com o tempo vou comparecer. Voltar nele.
E assim pedi e a graça foi concedida. Cronos
me deu o relógio para ver o que aconteceu. Porém, com alguma humildade, disse
que aquela passagem já estava aqui, em minha memória e oralidade. O Tempo
sorriu, disse que foi só um aviso, para o clima não mudar. Entendi o recado,
respirei tropegado, e assumi o risco de ver o que não foi. Coragem de poucos,
pois.
E vi a cena de mim diante do espelho da
vida. Aquela Aquarela de cores, do tom ameno de pele, ao amarelo fio, verde vidro,
janelas que por muito tempo olhei dentro. O Tempo admirou-se de mim, do Menino
que sim, demais foi daquele jeito a verificar os cristalinos da alma da Aquarela. Dele e da
história que eu pedi ver novamente. Um trovão dentro de mim veio, ao raio de
luz que não teve medo, e refleti sobre o tempo com o Tempo. Um diálogo com Deus
eu fiz. Foi assim...
“Sei que é dono de tudo, senhor dos
fatos e dos dias. Porém, a mim foi dada a dádiva de pensar e refletir, ao
perguntar como foi isso aqui. Tive um tempo dentro de mim e fora de mim. Sim,
Cronos, um tempo dentro e fora. Se permitires a audácia de explicar, vou dizer.
O Tempo fora de mim eu não tenho controle. Ele é seu. Tudo acontece, flui e
muda, como roupa de adolescente que não sabe o que vestir pra festa. E o
Senhor, Cronos, soberano dos ponteiros, absorve tudo e não devolve nada. Este
tempo, foram de mim, é seu. Justo. Porém, o que não sabe, é que o tempo dentro
de mim não é seu. Sim, seu miserável solitário, ao inferno quero o abraço, do
pecado de ser livre de qualquer Deus. Sim, sou Eu, aquele que Sou, ao dizer pra
Tu, no mineirês que não sobra um, que o tempo dentro de mim é meu. Pode ter
levado a cena dos olhos que estavam ali, na Aquarela que se pintou na minha vida,
contudo, aquilo que incrustou em mim, a partir do que vi, vivenciei e venci,
teve a arte de descrever a saudade que jamais se foi. Sim, seu Deus Besta, criei
algo maior que o relógio. Eu fiz a saudade. E ela é viva!”
Depois dessa, dessa conversa, com um tipo
de Deus, o Tempo, a três passos da perdição eu estava. Boquiaberto, engolindo o
passado, o presente e o futuro, sem dizer uma palavra, Cronos gritava. Pleno de
emoções, vivendo tudo o que a humanidade viveu, o Tempo estava experimentando a
saudade. E eu que não sou bobo nada, fui para a passagem que se abriu, ao
passado que se viu, ver novamente a Aquarela. Era uma pintura bela, daquelas
que a alma sente, no eterno enquanto dure. Ah, que se pune, sentimento bobo, que
leva os outros, a pedir a Deus o impossível de acontecer. Ciúme não tive, ao
ver na passagem da retina, outros olhares não percebidos por mim, admirando a Aquarela
naquele tempo. Foi só um tormento, tempestade que se faz, ao presenciar
novamente, o tempo gasto por mim. Adolescente fui de novo ouvindo Roxette.
Cabra da peste não sou.
O Tempo voltou a mim, enquanto a Aquarela
anotava a lição do dia, na janela que se abriu, e o Deus dos relógios me pediu: "explique mais". Não acreditei, que uma Potestade assim se ajoelharia, perante
um mortal que perdeu a chance de ser feliz. Com tais lições do tempo, da vida,
e do sofrimento, disse a ele a minha teoria do tempo de dentro. E assim
discorri...
“Oh Tempo, Deus de tudo e absoluto,
pensa comigo. Já fui bom em matemática, e ensinava para quem pedia. Olha só que
via. Mas na filosofia fiquei, e assim a ti propuséreis a metódica epistemologia
que nenhum Mestre sabe: a relação do tempo de dentro e de fora. É assim: um
segundo. Sim, um segundo. Um segundo no tempo de fora você vê a Aquarela olhar
pra si e congela. Nada diz. E a partir disso toda uma história acontece, com
meandros de rios a se dividirem, no que a psichê chora. Contudo, um segundo
dentro da gente, vendo o mundo perto assim, faz com que nada tenha fim. Anos
podem passar, a história e governos mudarem, mas o tempo dentro da gente
continua. Veja só, continua, como o seu também. Mas este tempo é meu. O seu ‘um
segundo’ é passado. O meu ‘um segundo’ é saudade. Quem é mais forte? Ah, Seu
Deus Menino, já vi seu ato tímido de represar suas emoções. Claro que a saudade
é mais forte, este ‘um segundo’ que nunca acaba. As emoções são mais fortes,
pois, são águas, e elas cabem em qualquer lugar, estão em todo lugar e,
especialmente, lavam a alma, esta substância infinita. E eu lhe pedi para
voltar aqui, na tarde da escola, para ver a Aquarela, as cores que ficaram na
minha vida. E, assim, percebi que as cores gravadas em seu registro histórico,
estão menos nítidas que as fotografias de minha memória. De minha saudade. E
sabe por que? Porque da água viemos. Águas são emoções. E água é vida!”
O Tempo não se conteve e mudou. Passado a
Presente, Futuro que não se teme, Ele revelou: tenho minhas águas também.
E continuou dizendo: “Mas elas são menores, pois, como um adolescente que
aprende matemática no ensino médio, eu soube contar como gasto meu tempo. E em
cada segundo que possuo, como senhor absoluto, eu digo em silêncio: viva. Nove
meses para nascer, um ano para celebrar, sessenta minutos para virar, e frações
de segundos para ser feliz - Era só dizer... Quanto tempo se gasta nisso de dizer
o que se sente? Ganha-se uma vida ou perde-se um destino. E eu disse, ao longo
da história da vida, que existe tempo para tudo, mas nem sempre coragem para
tudo. No silêncio de minhas águas eu disse. Eram as ondas do mar. E elas
sempre são rebeldes. Como um adolescente.”
Depois do relato de Cronos, a janela do tempo
se fechou, a Aquarela se foi, e eu despertei de meu sonho. Estava no presente,
o futuro lá de trás, e refleti sobre o devaneio que tive. Fui para o trabalho
professar.
Na minha sala de aula, aproximei de dois
alunos, um casal, em que a menina era como a Aquarela de meu sonho, de minha
saudade, de meu tempo de dentro, e o menino era aprendiz de preceptor. Indaguei
a ele o que conversavam, do que ensinavam, para escutar um pouco. Ele disse tímido
que era a raiz da equação, números complexos, raciocínio lógico para oferecer
na lição para a garota, além de velocidade, espaço e tempo, leis da natureza. Cheguei
mais perto dele, vi como estava a tez, de mais corada, como numa aquarela
pintada. A menina sorria. E o tempo dentro de mim quis sair de mim e dizer a ele
o que aprendi de Cronos. Ao sussurro do ouvido do menino, disse baixinho,
aquilo que ficou como lição de minha saudade: “gaste seu tempo com ela,
agora!” O menino arrepiou-se, empoderou-se, levantou-se da cadeira, no que eu
tive de me segurar. Falou para a Aquarela, aos olhos dela, o que há de mais
belo, que queria contar com ela, os segundos daqui até o fim da vida... ao seu lado
sempre. A Aquarela não se conteve, levantou-se de uma vez e, em fora de um português,
cantarolou para o garoto, a música que eu ouvi em meu sonho e na adolescência.
De mãos dadas aos namorados e ao destino selado, a Aquarela cantou em inglês assim
para o menino a música trilha da minha vida...
“What's the time? Seems it's already morning...”
Spending My Time, Roxette - Música tema desta crônica
Muito romântico 🌷
ResponderExcluirUm encanto!!!🥰
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