Não esqueça sobre mim


 

E estou de volta. Gosto de fazer isso, sabe. Letras que teimam em me acordar de manhã, pensamento da noite que madrugada toma, sono que sonho sanhando intensamente. Ah, que coisa indecente, sua imagem diante de mim, no onírico que me faz de novo menino. Sozinho jamais, palavras que me levam devagar a mais algo do interior das profundezas submergir. Eu quero ir. Você também?

É tanta coisa nesse mundo, baby. Contas para pagar, boletos a flutuar, e indigentes tomando posse de lugares nossos. Muitas vezes no ócio, algo que construímos com suor, o outro aproveita no quiproquó, saindo melhor do que nós. Injustiça cedo que nunca tarda em ocupar nossos corações. Confluência de emoções, tristeza que ocupa a alma, deleite que nunca vem. Mas eu digo pra ti, amém. Sei que vai meditar sobre isso diante da Maria. Isso depois, sei, vem a alegria. Mansidão...

Coça a mão, leia com atenção, futuro que se descortina a cada Aurora. Manhã que vem sorrateira, olhos que espreguiçam na mesa, café quente para acordar. Hoje é mais um dia de adiantar, vida que carrega a gente pra frente, porque pra trás é só saudade. Boa idade quando criança era, tempo imenso, correria na rua. Menina que olhava desconfiado, eu todo apaixonado, contando conto de jardins de adolescentes. É muito bom, gente, vem comigo, pensar um pouco, como a vida deixa a nós tonto. Ela tinha um ponto, medo do desafio, e eu nada disso tinha, era só brincadeira. A seriedade de uma, o sem juízo do outro, fez dos dois um pouco de filosofia para refletir. Eu disse na amarelinha do destino: pode ir. Mas eu mesmo fiquei. É o que eu tinha.

Três guitarras de um rock progressivo vem na acústica de uma ira de uma perda. Perdemos todos os dias, e lutamos por uma vitória, queria dizer naquela hora, mas a mensagem não foi. Ouvidos do entendimento não queria escutar, porém, sabia que poderia melhorar, um sorriso dado sem sentido no fim da tarde. Irresponsabilidade minha ter um pouco de felicidade diante da tempestade de inverno? Ah, não me aquieto, com tanta retração, sabendo eu que li Platão, e tudo não passa de uma caverna em que aprisionado ficamos. Vida boa é levada na travessia, Rosa disse um dia, no seu ser tão. Mineiro é bão. Pão-de-queijo contigo é melhor! Bem melhor...

Loucura na receita prescrevo a todos, receita refrigerante. Grito na rua, pulo na cama, danço na chuva, beijo a todo instante. Gente, se avexe não, o mundo vem disso até onde sei, desde Adão comentam sobre a questão. É um desperdício bater ponto no trabalho, pegar lotação apertada, viver ouvindo cobrança rotineira. Eu fico a beira, de dizer ao povo, no púlpito das emoções, que deveríamos viver enquanto vivemos e morrer enquanto morremos. Existir é padrão, viver é sem noção, que a cada momento quero descobrir. Você me olhando assim inverte a lógica, de contar história e insistir na poesia que encanta. Canta, com rima ou não, rindo você, tudo fica com razão. Métrica que faço com esmero. E um certo gesto...

Dá vontade de rotacionar o mundo ao contrário só para ver se, de outro lado, seríamos mais espertos. Adão voltando para o jardim, Cabral ficando em Lisboa, o Capiroto ficando em casa perto do Pai. Rotacionando ao contrário, relógio que voltaria, eu diria tudo que sei hoje no tempo que não conhecia. Jamais me despediria, ficando mais um pouco, dizendo ao outro, que amanhã pode acordar mais tarde. Deixaria a prova, e ficaria horas, ouvindo histórias da garota sobre a dieta da lua. Perderia o trem, insano acontecimento do mineiro, para ficar no sossego de ouvir meu coração, pelo menos uma vez. Mas não se entristeça, menina dos rios, que tudo isso eu digo, para um dia alguém se perder. Como diz o poeta, aqui das Minas Gerais, se eu soubesse todas essas coisas, não teria escrito. Mas teria sido feliz, replico. É tarde que vem a saudade.

A vida é besta mesmo, sô! Tanta dificuldade para quê? Deus não fez tudo, para que criar outro mundo? Prédio gigante, elevadores que sobem e descem, da infância a senilidade, e ninguém presente, almas que desejam voar nas asas que levam para casa. Infinitas avenidas, ao longo de muitas vias, todas finalizando em becos sem saída: quero descer, Motor! É muita dor, anestésico que vende na farmácia, na internet e na televisão, e nenhuma solução ofertada no balcão. Psicologia de buteco, digo para sua surpresa, que mudar a rota pode devolver a lembrança do que não foi. Maioria dizendo verdades são medos escondidos. Normalidade que condena a loucura, quando esta voz no deserto diz que nunca ambicionou viver desse jeito. Gravata ou nudez? Vestimos tanto e esquecemos de nós. Não precisa medir o tecido, Alfaiate. Vim e vou embora assim mesmo!

E caminho de novo nas ruas e dentro de mim. Lá fora é multidão em silêncio gritando por dentro. Aqui em mim é sociedade dos poetas mortos, professor que sobe na mesa, e ensina a desobedecer a desobediência de um nirvana, transcendência dos deuses. Banquete dionisíaco que se faz, na alma que apraz, vibração do meu sangue que faz a musculatura das minhas pernas correr. A senhorinha fica boba de vê o quanto foi, sprint meu, no intervalo grande de uma curta vida. O menino sorri, vê esperança, e a menina dança, olhar jogado ao meu. Chuva que começa a cair, águas que começam a confundir, a primeira emoção que surgiu naquele momento. De Deus ou do Vento? Sei que tive alento, ao me refrigerar por dentro, jogando para fora, tudo o que não era eu: eu não esqueci de mim. Fiquei tão feliz, louco também, os dois se combinando na melhor homilia e abençoando um amém. Sem tempo e templo para ajoelhar, digo a todos para não ficar na rotina de um modo de viver ultraprocessado. É passado. Melhor lado é se nutrir do pão da vida, chão da terra, lama que encerra crônica louca de se ler. É para chorar ou viver? Mistura boa dos dois é o remédio a escolher, pois, de qualquer jeito, o certo é jamais se esquecer do que é você. Receita de bolo eu não tenho. Prefiro ir comendo.

Por isso termino a escrita, coisa que faço na vida, cantarolando para espantar as más energias. Sai para lá mosquito da dengue, spam da caixa de entrada, bom dia arrastado, abraço perdido. Fique borboletas na barriga, suor frio, imagina, enamorados bobos, perdidos e felizes para sempre. Fique a revolução, a mudança da rotação, do destino que levaria para o fim, desviando para o começo. Fique o dedo médio, melhor remédio, para muitos dias cinzentos serem aquarelas de verão. Fique a gargalhada gostosa, a insanidade que denota, plano do Éden escrito por um gênio indomável: você ao fim, sorrindo assim, é tão amável… Que tu fique também, digo e peço, vem, la-la-la-la, dançando contigo, na aventura de um sussurro macio, querida, suplico ao seu ouvido...


Não esqueça sobre ti, meu bem...


Don't You (Forget About Me), Simple Minds - trilha sonora desta crônica.


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